quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Cicatrizes

 


Cicatrizes


Minhas cicatrizes tem vozes, cheiros e gosto

Tem som, calor e um rosto

Minhas cicatrizes dançam, cantam e encantam

Abrem, latejam e sangram


Minhas cicatrizes são promessas

que não vão se realizar

Me desejam mil sonhos

e me forçam a acordar


Minhas cicatrizes são o liso da noite

ou um emaranhado vermelho

São o abraço no parque

ou o beijo no espelho


Minhas cicatrizes tem cheiro de bom dia

e gosto de vinho

São o barulho do trem

e o esperar sozinho

Minhas cicatrizes me olham de baixo

e me puxam para o chão

Me levam para longe

e me trazem solidão


Minhas cicatrizes existem

porque não as deixo fechar

Sangram saudades

para um dia cicatrizar





quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Culpa


The Paternal Guilt of Working Dads | by David Willans | The Ascent

E queria ser mais

do que um menino de coração 

partido


Queria ser mais

Do que um sentimento

escondido


Queria poder voltar a voar

Como alguém sem o peito

pesado


Ser livre para voltar a caminhar

Por me sentir novamente

amado


Queria não perder tanto tempo

Encarando minha própria

tristeza


Queria voltar no tempo

E, no espelho, enxergar minha própria

beleza


Mas sinto mudanças no vento

Me fazendo navegar em novos

mares


Sinto minha alma mais leve

Me levando a novos diferentes

lugares


Antes estava preso no passado

Quando meu coração era só 

seu


Hoje respiro mais tranquilo

Lembro que aquele já não sou mais

eu

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Eu Sinto

Eu Sinto

Saudades de quem eu nunca vi
E vontade daquilo que não provei
Já senti ódio de mim
E Medo do que eu já pensei

Já me arrependi daquilo que não fiz
E desisti de tudo que planejei
Já senti vontade de correr
Sem saber onde chegarei

Já senti medo de perguntar
E de esquecer o que eu falei 
Já me esforcei para ouvir
E chorar pelo que não escutei

Eu sinto
Que Eu já não sinto nada
Por aquilo que já muito amei

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Por dentro

Por dentro

Ás vezes as coisas crescem fortes, as vezes tendem a morrer
Ás vezes vemos o mundo mudar, e as vezes vemos ele desaparecer
Há coisas que nunca partiram, e há coisas que para sempre ficarão
Há momentos que jamais esqueceremos, e há momentos que nos farão esquecer
Existe algo em meu coração

Ás vezes o caminho da felicidade nos leva à uma porta vazia
Ás vezes simplesmente queremos mais
Tem vezes que o seguro se torna o óbvio
Tem vezes que o bom se torna decepcionante
Algo cresce em meu coração

Um erro cometido várias vezes torna-se um defeito
Um defeito que se repete torna-se uma desculpa
Uma desculpa mal contada torna-se uma falha
E uma falha sem solução torna-se um muro
E algo cresce em meu coração

A segurança pode nos tornar displicentes
E transformar uma casa em uma prisão
A segurança pode nos transformar em egoístas
E transformar um elo em um grilhão
Algo corroê meu coração

Ninguém quer sentir tristeza, por mais doce que ela seja
Ninguém quer sentir medo, por mais comum que ele pareça
Ninguém quer usar uma máscara, por mais gentil que isso se torne
Ninguém quer vender sua alma, mesmo que mais nada importe
Tem algo matando o meu coração



domingo, 21 de dezembro de 2014

Frio





Sinto um frio dentro de mim.
Tenho tudo para manter-me quente, mas o frio sempre está lá.
Há momentos felizes que não o sinto. Ele simplesmente não existe.
Mas há outros em que só tenho a ele.
Às vezes parece que irá sumir e nunca mais voltar, mas ele sempre volta.
Sempre esteve lá.

Ultimamente sinto o frio nos momentos felizes, onde apenas o calor deveria ocupar.
Em momentos de plena alegria sinto o frio crescer.
Já não sei mais como fugir. Já não sei mais como temer.
Por horas pensei que fosse o inicio de uma consciência.
Talvez uma revelação que se elevaria a uma transformação em minha vida.
Hoje não acredito mais nisso.

O frio é um corte seco.
Um arranhado no disco e o trinque no copo.
Um dia ele irá surgir e ficará em você para sempre.
Todos temos o frio dentro de nós. O meu é no meu coração.
A cada batida, a cada pulsar, o frio se espalha pelo corpo e me faz tremer. Tremer de medo.
A solidão surge quando cercado pelos que amamos.

Uma solidão tempestuosa que varre os sentimentos, deixando apenas um deserto na alma.
Ninguém compartilha o seu deserto com você.

Um sofrimento que não sabemos explicar, e que ninguém tentará entender, toma lugar dos seus sonhos e ambições.
Faz-nos parecer tolos por desejar grandes coisas em nossas vidas, mesmo que pequenas para os outros.
Somos pequenos para os outros.

E aqueles que nos amam de verdade apontam para uma estrela que já desistimos de seguir.
Essas estrelas maquiadas de sonhos não mostram caminhos e piscam como ilusões.
Seu brilho ilumina não trilhas, o deserto.
Já me perdi nesse deserto uma vez, e não o farei de novo.

Fingimos e brincamos que já estamos subindo a escada em busca dos sonhos, mas na verdade temos medo de altura e a deixamos para trás.
Fugimos e nos esquecemos onde à encontrar. Lá no deserto outra vez.

Um demônio cresce dentro de mim.
Ele não sou eu, mas é aquilo que eu vou ser.
O vejo crescer e alimentar-se de desilusões.
Vejo-o convidar-me a sentar ao seu lado e ver como todos estão bem e te deixaram para trás.
O mundo girou sem você e para sempre estará lento  e amarelo.
Como um sorriso falso e uma piada que você deixou de rir à anos, mas a conta como se lhe fizesse bem.
As memórias ardem como latências de uma ferida aberta, e tem gosto de fracasso.
Você podia tudo e hoje está atrasado.
Você conseguiria tudo e hoje gosta de evitar a queda.
Nem me levanto mais.

O demônio frio me corta, rasga e sangra.
Estou nu e exposto.
Um holofote queima enquanto me protejo da luz.
Não há amor, sorrisos e calor, só vergonha.
Uma vergonha venenosa e cancerígena.
Uma vergonha amarga e pulsante.
Uma vergonha medrosa e infeliz.
Uma vergonha fria.


Sinto um frio dentro de mim.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Vácuo



Ao passado não se retorna,
E, o que o passado toma,
Não se tem de volta.

Podemos ver o passado
como anos dourados,
Ou como uma vida
que não lhe pertence mais

E o futuro, ah o futuro
Que de meia volta nos dá oportunidade
de oportunidades que escolheremos jamais

E que nos lembra que o tempo passa
sem ao menos nos perguntar
Deixando uma trilha espaça
Sem nada para nos orgulhar

Há pessoas no passado
Que nos machucam ao passar
Tentando manter-nos presos
Em um tempo que não vai voltar

Há também outras
Que no nosso futuro nos querem bem
Mas apressam o presente
Pois esse não lhes convém

E de hora em hora
Olhamos para os dois lados
E paramos para nos decifrar:
Olho tanto para o futuro e o passado
Porque no presente já não dá para ficar

sábado, 23 de novembro de 2013

Minha Noite




Ah, a minha noite,
Companhia dos sonhos
Tal qual uma confidente
Perpétua e simples
E jamais indiferente

Ah, a noite
quanto os sonhos parecem lúcidos
Quando o cansaço é irrelevante
Quando o pensamento é lúdico
E o destino não tão distante

Ah, as noites,
Que me socorrem no perdido
E me acalentam no sozinho
Que não me dão por um iludido
Nem julgam meu caminho



Ah, a noite,
Que toma os medos como seus
E os coloca diante de ti.
Que reluta a partir sem mostrar
Que nem tudo se perdeu ali.
Que não julga.

Que na sombra distorce o ego
Sem mostrar sua face.
Que na escuridão esconde o medo
Antes que a coragem se estilhace.
Minha fuga.

Minha noite,
Que parte e desvanece
Volta quando me convém.
Minha companheira e consorte
Meu vício de ninguém.